Aqui vão algumas dicas que ajudará os futuros proprietários a evitar dores de cabeça e gastos desnecessários. Só por curiosidade! Você saiba que para arrumar o motor e a lataria de um Fusca, mal conservado, o valor gasto poderá ser maior que o do próprio carro? Então vamos ao que interessa.
Motor
Fusca é barato em muita coisa. Infelizmente a reforma (retífica) de motor não é uma delas. O preço do serviço é afetado por muitas variáveis, mas raramente sai menos que mil reais, podendo chegar a cerca de R$ 2.300 quando completa com peças de primeira linha e nas mãos de um mecânico realmente profissional. A boa notícia é que você não precisa ser engenheiro mecânico pra fugir das roubadas. Bastam 5 testes básicos, além de alguns detalhes que julgo pertinentes ficar atento.
1º teste: O da polia
Com o motor desligado, ponha o Fusca em ponto morto. Abra a tampa do motor. Você verá uma polia grande e uma pequena, ligadas por uma correia. Pegue a polia grande, com as duas mãos e tente (com toda sua força) sacudir a polia para frente e para trás. Se sentir qualquer folga, mesmo pequena, o motor tem problema de folga no virabrequim (caro). Ele até poderá rodar um bom tempo assim, mas sua confiabilidade e durabilidade estão em risco, a menos que o carro esteja MUITO barato, não vale à pena. Procure outro!
2º teste: O da mangueira
Do lado direito do motor, há uma tampa por onde se põe o óleo novo. Junto a ela, existe uma mangueira que vai ao filtro de ar. Desencaixe a mangueira neste ponto e ligue o motor. Ponha a palma da mão perto da boca da mangueira e peça pra alguém acelerar o carro. Se sentir um fluxo de ar (sopro) forte (o certo é não ter quase nada), os anéis dos pistões estão gastos e a compressão vaza para o cárter e sai pela mangueira fazendo o Fusca perder força quando você exige mais da máquina. Problema caro, pois exige no mínimo desmontagem parcial do motor para trocar de anéis e bronzinas, além de possível retífica. Fuja!
3º teste: O da pocinha
O ideal é que você examine o carro onde ele costuma ficar. Ou, ao menos, após ele ficar estacionado no mesmo lugar por uns 30 minutos. Por quê? O motor do Fusca, principalmente os 1500 e 1600, são propensos a vazamentos de óleo. Às vezes, vendedores, de má fé, procuram esconder vazamentos lavando o motor (desconfie de motores brilhando). Mas logo após a “maquiagem” ele volta a pingar. A pocinha denuncia a sacanagem. Um Fusca roda com esse problema sem maiores inconvenientes, desde que se monitore o nível do óleo com alguma freqüência, mas é um negócio chato e o conserto pode ter um custo meio elevado. Além do teste da pocinha, procure ver o motor por baixo para detectar vazamentos, o que pode ser visto nas peças melecadas de óleo.
4º teste: O do fumacê
Motor saudável não solta fumaça “visível” pelo escape, exceto em clima muito frio (e úmido) e no momento em que é ligado. No Fusca isso é visível principalmente quando o carro fica estacionado em local inclinado. Ligue o motor e peça que ele seja acelerado enquanto você olha para o escape. Fumaça escura é carburação desregulada (rica). Fumaça clara azulada é óleo queimado, o que indica problema mais sério, possivelmente exigindo abertura do motor. Fuja! Ou negocie um bom desconto.
5º teste: O da barulheira
Com o motor ligado, procure um cabo de aço junto ao carburador. Empurre a peça do carburador onde ele se conecta em direção à frente do carro, acelerando-o. Faça isso devagar e mantenha em cada nível de rotação por alguns segundos. Solte rapidamente e volte a acelerar. Se ouvir qualquer estouro ou ruído metálico, pode ser motor fora de ponto (conserto barato), escape furado (mais ou menos barato) ou problemas de válvulas (caro). Carburadores molhados e fedendo a gasolina geralmente estão pedindo reforma ou substituição (meio caro).
Suspensão
A suspensão do Fusca é simples e muito resistente. Mas alguns cuidados são importantes.
Olhe o carro de frente, a uns 4 metros de distância. Repita a operação por trás. Ela não deve estar com a carroceria inclinada para um lado, o que pode indicar feixes de mola quebrados ou facão desregulado. Desconfie de carros rebaixados, pois estes frequentemente têm amassados e arranhões por baixo, o que facilita a corrosão, além de terem mais chance de sofrer danos no chassi ou suspensão. Verifique a forma como o carro foi rebaixado. Se for sem catraca, com retirada de feixes de mola, a chance de quebra dos feixes restantes e o desconforto ao rodar serão grandes. Atualmente a suspensão rebaixada, permitida por lei, deve usar sistema fixo, o que desqualifica a catraca. Portanto, olho vivo: você pode ter problemas na vistoria de transferência do Fusca.
Pegue o carro pelo pára-choque dianteiro e sacuda-o para cima e para baixo. Solte e observe: o carro deve voltar à posição original no mesmo instante. Se ficar oscilando como uma mola solta, os amortecedores estão no prego. Falando nestes, procure virar as rodas dianteiras e observe estes componentes. Eles não devem estar melecados de óleo, o que significa que estão inutilizados. Na medida do possível, faça o mesmo nas rodas traseiras. Outros indícios de amortecedores ruins ocorrem quando a frente do carro “afunda” em freadas fortes, ou “inclinar-se” muito e “canta pneus” nas curvas (mesmo sem muita velocidade), ou ainda, “bater seco" ao passar por obstáculos tipo quebra-molas. Detalhe importante: amortecedor recondicionado não presta. Ainda mais no caso do Fusca, onde a diferença de preço de uma peça recondicionada e nova gira em torno de R$ 20.
Tremores na direção com o carro andando indicam peças da suspensão com folga (pivôs, terminais de direção) ou falta de balanceamento nas rodas ou geometria (conserto de custo médio). Com o carro andando, solte a direção, ele deve seguir em linha reta, caso contrário, no mínimo, precisa de serviço de geometria que custa em média R $ 25. Um truque comum de vendedores mal intencionados é esvaziar bem os pneus, pois assim alguns ruídos somem. Olhe para eles antes de andar com o carro. Se estiverem visivelmente murchos, pare num posto e coloque pelo menos 18 libras nos dianteiros e 22 nos traseiros. Só depois faça o teste de rodagem.
Embreagem
Pedal de embreagem muito duro indica cabo em mal estado (barato) ou embreagem indo pro saco (caro). Andando com o carro em terceira ou quarta, acelere fundo. Se sentir o carro trepidando ou houver patinação (motor subir rapidamente de giro sem ganho correspondente de velocidade), é mais provável que a embreagem esteja ruim mesmo, embora também possa ser apenas caso de regulagem. A trepidação na arrancada também é sinal de problema. Uma troca de embreagem, com peças novas, fica em torno de R$ 350.
Ali ao lado temos o acelerador. É um mecanismo muito simples. Se estiver duro provavelmente é apenas o cabo sem lubrificação. Barato e simples de arrumar.
Câmbio
O câmbio do Fusca tem engates secos e muito precisos. Se houver qualquer dificuldade de engatar uma marcha, há problemas ou na região do comando da alavanca (geralmente de conserto barato), dentro da caixa (conserto caro) ou embreagem desregulada ou com problemas no seu cabo de acionamento, na dúvida consulte um mecânico. Uma caixa à base de troca gira em torno de R$ 400. Ronco alto que só some apenas em ponto morto indica problemas nos rolamentos ou engrenagens da caixa (conserto caro).
Direção, Freios e Rodas
Experimente frear forte, mas não dê sôco. O carro não deve puxar para os lados ou dar "soquinhos". O que indica possível problema de freios, como discos ou tambores empenados ou gastos. Logo após rodar com o carro, ponha as mãos em cada roda, se estiver bem quente, o freio está com problemas naquela roda e precisa de reparo urgente. Para quem nunca teve Fusca, a força necessária no pedal pode parecer um pouco maior, mas isto é característica do carro que não possui servo-freio. A puxada para o lado também pode indicar problemas graves de chassi torto. Consulte um mecânico neste caso.
Se possível, ponha o carro num elevador e gire as rodas. Elas devem estar bem soltas e não fazerem ruídos. Caso contrário é possível que os rolamentos estejam secos ou avariados.
Volante. Ao começar a girá-lo, você vai notar que ele faz um pequeno movimento mais leve e então fica bem mais pesado e efetivamente começa a girar as rodas. A este movimento "leve" se chama a folga do volante. Pela característica de construção, o Fusca deve ter uma “pequena folga”, mas se ela for de mais de 1 ou 2 cm , desconfie. No mínimo a caixa de direção precisa ser regulada e no máximo, trocada (caro). A direção também não deve "estalar", o que pode indicar igualmente caixa condenada ou folga nos terminais.
Pneus. Dê preferência a um carro que os tenha em bom estado, caso haja desgaste verifique se esta ocorrendo uniformemente, caso contrário pode haver problema de regulagem de geometria ou suspensão danificada. Os Fuscas até 86 vinham de fábrica com pneus convencionais diagonais, finos, de baixo desempenho e durabilidade. Pneus modernos radiais, que equiparam os modelos de 93 a 96, diminuem um pouco o conforto da rodagem, mas dão ganho grande em estabilidade e durabilidade.
Lataria/Carroceria/Pintura
Pintura. Sempre a verifique sob a luz do sol e nunca molhada. Partes com pintura mais áspera, porosa ou em tom diferente do resto indicam trabalho mal feito de repintura ou excesso de massa plástica. Bolhas sempre escondem ferrugem por baixo, exigindo repintura da peça e chapeação. Passe um imã envolvido em pano, se em algum ponto o imã não grudar é porque há excesso de massa naquele ponto da carroceria, o que indica trabalho porco.
Lata é o item mais caro e complicado de arrumar, pior que o motor, portanto, olho vivo!
Verifique se os vãos (espaços) entre as peças são iguais e uniformes em ambos os lados. Exemplo: a distância da porta à coluna da carroceria ou da tampa do motor para a carroceria. Uma irregularidade aqui pode indicar batida mais forte ou reparo mal feito.
As partes mais baixas da carroceria do fusca são muito sujeitas à corrosão. Olhe o berço do estepe (chão do compartimento onde fica o estepe) por dentro e por fora; o assoalho (chão) no interior do carro (tire qualquer tapete que houver) e caixas de ar, ou seja, aquelas vigas ocas que formam as bases da lateral da carroceria, formando o batente inferior das portas. Elas começam embaixo do banco traseiro e vão até perto dos pedais do motorista; Não seja tímido! Levante o carpete ou coisa que houver, junto ao assoalho e veja bem o estado da lata ali. Também levante o assento do banco traseiro (é só encaixado, mas pode exigir um pouco de força). Desconfie de assoalhos recém pintados. Hoje uma troca de assoalho costuma sair caro, além da dificuldade de encontrar oficinas dispostas a fazer este tipo de serviço. Se possível erga o carro num elevador hidráulico e examine o assoalho pelo lado de fora. Outros pontos comuns de corrosão:
• Em torno das borrachas dos vidros;
• Embaixo de toda extensão da borracha do porta-malas dianteiro (levante-a para checar);
• Parte inferior das portas, tanto do lado de dentro quanto de fora;
• Por dentro das caixas das rodas;
• Sob a bateria, que fica instalada dentro do carro, sob o assento do banco traseiro.
Respingos de tinta nas borrachas e painel indicam pintura recente e descuidada. Cuidado!
O fechamento das portas deve ser checado com os vidros fechados. Caso contrário, elas provavelmente fecharão com facilidade mesmo que estejam com problemas. O certo são elas não exigirem grande força para fechar. Com a porta aberta, procure erguê-la com as mãos (não precisa usar muita força). Se houver folga e a porta exigir força pra fechar, os pinos das dobradiças devem estar gastos ou a fixação da porta às dobradiças está avariada. Se não houver folga e a porta fechar exigindo força, pode ser apenas falta de regulagem do trinco.
Elétrica
Nos Fuscas com dínamo é normal a luz da bateria no painel ficar acesa e oscilando em marcha lenta, pois nessa situação o dínamo não carrega bateria. Mas ao acelerar, a luz deve apagar-se totalmente rapidamente, senão é problema. Em Fusca com alternador, a luz não deve ficar acessa em nenhuma situação, exceto, às vezes, com o motor frio recém ligado. Desconfie principalmente se a luz se mantiver acesa com o motor sendo acelerado. Conserto de alternadores ou dínamos geralmente é caro e requer mão-de-obra competente (para dínamos é escassa). Com o motor ligado, acione todos os acessórios elétricos do carro ao mesmo tempo (faróis, piscas, rádio, limpador do para-brisa). A luz do painel não deve acender e nem o carro apagar.
Acessórios
Afogador. É extremamente comum este sistema não estar funcionando. A razão é que o cabo do afogador não possui conduíte próprio. Ao invés disso, ele corre em um túnel metálico acoplado à própria carroceria. Este túnel vai perdendo a lubrificação e se enchendo de sujeira, o que acaba por deteriorar, travar e partir o cabo. Normalmente o afogador é dispensável no Fusca à gasolina. Porém, dependendo da regulagem e estado do motor, ele pode fazer falta, ainda mais se você usar o carro em locais com clima frio. Caso o cano por onde seu cabo corre estiver amassado ou corroído, pode ser muito difícil fazer a troca do cabo.
O Fusca conta com poucos acessórios de fábrica. Os mais requisitados por representarem mais confiabilidade e menor manutenção são os freios a disco dianteiro (ao invés de tambor), ignição eletrônica (ao invés de platinado), alternador (ao invés de dínamo) e pneus radiais (ao invés de diagonais). Com exceção de algumas versões, todos estes acessórios equiparam apenas os Fuscas fabricados após 82 (93, no caso dos pneus). Mas podem ser adaptados com bons resultados e sem dificuldades nos modelos que não os possuem.
Outros
Plaqueta de identificação. Atrás do estepe há uma plaqueta em alumínio com números em alto relevo. Se ela não estiver lá ou se estiver pintada na cor do carro, desconfie. No mínimo o carro teve a frente toda pintada ou a frente foi trocada e a plaqueta ficou pra trás. Ela é presa com 2 rebites bem no meio em ambos os lados. De 1986 em diante, esta plaqueta mudou de lugar ficando na lata próxima ao velocímetro.
Não importa quão bom esteja o carro se os documentos tiverem problemas. Antes de comprar o carro solicite a placa e o código Renavan para conferir no site do Detran de seu Estado, afim certificar-se quanto a multas, restrições e alienações financeiras. Verifique o número do chassi sob o banco traseiro (basta desencaixar o assento) e veja se bate com o documento. Desconfie se os números estiverem tortos ou com marcação muito rasa. Uma malandragem comum é cortar fora apenas o pedaço do chassi onde está este número e soldar em outro, para “esquentar” legalmente um carro. Nem sonhe em pegar um carro sem documentação, cheque também se há dívidas atrasadas. No motor, na base do dínamo, encontra-se a numeração do motor. Se ela não existir, ou estiver apagada, você pode ter problemas legais sérios. Outro detalhe importante é que a maioria dos Detran's exige que o número do motor esteja cadastrado. Caso não esteja, você não conseguirá colocar o carro no seu nome.
Se você esteja procurando um Fusca mais antigo (anos 60 para baixo) e deseje originalidade, faça uma boa pesquisa quanto aos itens originais de acabamento e verifique bem o que falta no carro que pretende comprar. Este cuidado é importante porque muitas peças mais antigas são caras e/ou difíceis de achar ou reformar, o que pode causar um grande custo na restauração. Uma bananinha (antigo sinalizador que substituía o pisca-pisca) pode chegar a 2 mil reais. Um trabalho de estofaria no padrão original dos bancos chega facilmente a mil reais. Também cuidado com os "cabritos". Fuscas montados com peças de diferentes carros. O mais comum é pegar um chassi mais antigo e pôr uma carroceria de Fusca mais novo sobre ela (evite estes carros). Para saber se o carro é cabrito é preciso conhecer alguns detalhes. Por exemplo: as "orelhinhas" (grades de ventilação vistas atrás do vidro lateral traseiro) só começaram a sair a partir de 74. Então se você achar um Fusca 71 com esta característica, pode ser cabrito. Outro "hábito" comum era "modernizar" o Fusca trocando-se peças por de versões mais novas. Exemplos frequentes são os modelos anteriores a 79 com lanternas Fafá (grandes e redondas). Fuscas até modelo 72 devem ter farol “olho-de-sapo” que têm a lente inclinada pra cima. De 73 em diante, o farol é igual ao dos Fuscas modernos.
Raramente carros com aparência mal cuidada têm a mecânica bem cuidada. Desconfie! Dê preferência a particulares. Lojas sempre vão cobrar mais caro por carros que muitas vezes não valem aquilo. Seja paciente! Raramente você vai achar o carro dos sonhos antes de ver muita porcaria.
Tenha uma grana extra para manutenção do recém adquirido Fusca, uma vez que mesmo estando em bom estado, sempre haverá a necessidade de uma revisão geral em itens como carburador, freios, cabos, mangueiras em geral e etc...
Cuidado na aquisição de peças. Fuja de algumas marcas paralelas de péssima qualidade, assim como de exploradores que vendem peças originais a “peso de ouro” e que normalmente ficam nos encontros de antigos ou vendem pela internet. Procure lojas idôneas e especializadas em peças para vw’s antigos, tais como: billes, lider101 ou quando for a alguma autopeças, solicite peças paralelas de qualidade, enaltecendo a marca da mesma, tais como Bosch, Nakata, TRW, Fortluz, Cofran, Sabó, entre outras...
Estas são algumas dicas básicas. Elas servem apenas pra detectar alguns problemas mais sérios. Muito provavelmente o Fusca que você comprar terá outros problemas mais simples que você só notará depois, mas seu conserto certamente será simples e até divertido.
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