Muito se discute qual é o melhor
sistema de alimentação para o motor boxer. No Brasil, o sistema de alimentação
exclusivo do fusca foi por muito tempo o de carburação simples, até a chegada
do "Bizorrão" em 1974.
Muita gente optava, e ainda opta,
pela carburação simples, principalmente nos motores 1300, pelo fato da dupla
carburação supostamente consumir mais. O dono faz um cálculo simples: dois
consomem mais que um! Mas não é assim que funciona... Não no motor boxer.
No final da década de 40, o
Porsche 356, com o motor de apenas 1.100 cm³, já utilizava o sistema de dupla
carburação. Isso porque Ferdinand Porsche e seu filho Ferry, concordavam que
para eficiente alimentação de um motor de cilindros opostos, teria de ser com
um carburador para cada par de cilindros opostos.
Se pensarmos bem, é fácil
analisar o quão superior é o sistema de dupla carburação comparado ao simples.
Para isso, basta analisar e entender o funcionamento do motor boxer. Para que a
gasolina chegue aos cilindros, deve passar pelo coletor, que na carburação
simples é muito longo, cerca de 1 metro. Nesse espaço de tempo, em que a
gasolina passa pelo coletor, perde-se material, pela evaporação e atrito com as
paredes do coletor, chegando a gasolina sem pressão e em menor quantidade aos
cilindros.
Com a dupla carburação é
diferente. Os carburadores ficam posicionados diretamente acima dos pares de
cilindros, tendo o coletor a altura de alguns centímetros, direcionando a
gasolina com pressão e sem perda de material, ocasionando o melhor
aproveitamento do combustível e performance do motor, principalmente nos de
1.600 cm³.
Em síntese, o motor com sistema
de dupla carburação tende a ser mais econômico e potente. Claro, que se o dono
não moderar a aceleração nem cuidar da devida regulagem dos carburadores, tanto
a economia quanto a performance ficam pobres.
Um problema crônico da dupla
carburação, é a regulagem, que deve ser perfeita na mistura ar combustível,
para que os cilindros trabalhem em perfeita sincronia, demonstrando toda a
eficiência e vantagem de sistema.
Para melhorar a
performance do motor boxer, sem aumento do consumo de combustível ou desgaste do motor, a melhor
dica é instalar sistema de dupla carburação, principalmente nos motores de
1.600cm³. Dessa forma, com plena regulagem e técnica do motorista, a diferença
será notável!
Quem
nunca ouviu falar da Amazonas? Apesar de presença rara nas ruas e estradas, a
moto brasileira com mecânica Volkswagen refrigerada a ar ficou mundialmente
famosa, por essa peculiaridade e por sua exuberância de dimensões e peso.
Sua
origem é atribuída à Motovolks, criação dos mecânicos Luiz Antônio Gomi e José
Carlos Biston no início da década de 70. Gomi e Biston instalaram um motor VW
1500 "a ar" e o câmbio de quatro marchas de automóvel em uma enorme
motocicleta de 330 kg, com quadro que misturava partes de uma Harley-Davidson, de uma Indian e a parte
inferior de fabricação artesanal.
Como se espera, houve dificuldades: foi preciso
aliviar o volante do motor, para conter a tendência da moto de inclinar ao ser
acelerada, e instalar uma alavanca específica para a marcha à ré, evitando
confusão com as demais marchas, comandadas pelo pé esquerdo. Duas molas
auxiliares reforçavam a suspensão traseira e dois amortecedores (de direção do
Fusca) estavam ao lado dos tubos do garfo. Os mecânicos teriam construído
quatro unidades da Motovolks, cujo paradeiro não se conhece, mas a idéia teria
uma longa sobrevida.
A empresa, Amazonas
Motocicletas Especiais Ltda. ou AME, era fundada em 15 de agosto de 1978 no
bairro da Penha, na capital paulista. No mês seguinte já chegavam ao mercado as
versões Turismo Luxo, Esporte Luxo e Militar Luxo da Amazonas, com seu estilo
desajeitado mas imponente. Com 2,32 metros de comprimento, 1,67 m entre eixos e mais de 380 kg, era muito maior e mais pesada que qualquer moto
nacional — e uma das mais avantajadas do mundo
Suas linhas lembravam as das Harley-Davidsons 1200 da época. Tinha um grande tanque (24
litros),
carenagens laterais atrás do motor, um largo banco, farol retangular e itens
cromados em profusão. Dois porta-objetos ladeavam o pára-lama traseiro, sendo
protegidos por frisos cromados; acima vinha um bagageiro também cromado.
O painel era composto por velocímetro e conta-giros (até 6.000 rpm e com faixa
amarela já a 4.500, bastante baixa para uma moto) emprestados do esportivo Puma, além de
luzes-piloto. Uma luz vermelha indicava o uso da marcha à ré, com engate pela
alavanca à direita. A exemplo da Motovolks, a Amazonas utilizava peças de
diversos carros, como Fusca e Corcel, e até de caminhões, como Ford e o
Mercedes 608 D — caso do farol retangular.
Em testes
da imprensa o "dinossauro de duas rodas" obteve velocidade máxima
entre 133 e 144 km/h e aceleração de 0 a100 km/h em 8,7 a 10,3 segundos, conforme o ano do teste. O consumo
em cidade era de 11 km/l, e em estrada, de até 16 km/l.
Para dar conta de tanta
sede, o tanque podia ter de 30 a40 litros de capacidade. Boa para os donos do petróleo, como
o presidente da companhia petrolífera oficial do Kuwait, Husain Asad, que no
início da década de 80 adquiriu uma Amazonas para uso pessoal. Outras unidades
foram exportadas para o Japão (onde chegou a ser capa de revista, uma
comprovação de seu interesse mundial), Estados Unidos, França, Alemanha e
Suíça.
A moto recebeu aprimoramentos durante sua vida,
mas em geral discretos. No início da década era oferecido o motor a
álcool, que possuía carenagem mais ampla para ajudar a manter o motor em
maior temperatura. Em 1982 ganhava uma renovação de estilo, com dois faróis
retangulares menores, abaixo do principal, e encosto para o passageiro. Uma
opção de pintura então adotada, com faixas em azul-claro e vermelho sobre fundo
branco, era um tanto chamativa e acentuava suas dimensões.
Ficha técnica
Amazonas 1600 Turismo
(1983)
MOTOR - 4 cilindros
horizontais opostos, 4 tempos, refrigerado a ar; comando no bloco, 2 válvulas
por cilindro. Diâmetro e curso: 85,5 x 69 mm. Cilindrada: 1.584 cm³. Taxa de compressão:
7,2:1. Potência máxima: 56 cv a 4.200 rpm. Torque máximo: 10,8 m.kgf a 3.000 rpm. Dois carburadores. Partida
elétrica.
CÂMBIO - 4 marchas mais
ré; transmissão por corrente.
FREIOS - dianteiro,
duplo disco; traseiro, um disco.
QUADRO - berço duplo em
aço.
SUSPENSÃO - dianteira,
telescópica; traseira, duas molas
PNEUS - dianteiro e
traseiro, 5,00-16.
DIMENSÕES - comp.2,32
m; larg. 1,05 m; cap. do tanque, 24 l; peso líq, 380 kg.
DESEMPENHO - velocidade
máxima, cerca de 140 km/h; aceleração de 0 a100 km/h, cerca de 10s